sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Texto de apoio à prova

DEUS ESTÁ MORTO

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

"Deus está morto" ("Gott ist tot" em alemão) é uma frase muito citada do filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900). Aparece pela primeira vez em A gaia ciência, na seção 108 (Novas lutas), na seção 125 (O louco) e uma terceira vez na secção 343 (Sentido da nossa alegria). Uma outra instância da frase, e a principal responsável pela sua popularidade, aparece na principal obra de Nietzsche, Assim falava Zaratustra.
Deus está morto! Deus permanece morto! E quem o matou fomos nós! Como haveremos de nos consolar, nós os algozes dos algozes? O que o mundo possuiu, até agora, de mais sagrado e mais poderoso sucumbiu exangue aos golpes das nossas lâminas. Quem nos limpará desse sangue? Qual a água que nos lavará? Que solenidades de desagravo, que jogos sagrados haveremos de inventar? A grandiosidade deste acto não será demasiada para nós? Não teremos de nos tornar nós próprios deuses, para parecermos apenas dignos dele? Nunca existiu acto mais grandioso, e, quem quer que nasça depois de nós, passará a fazer parte, mercê deste acto, de uma história superior a toda a história até hoje! — NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência, §125.

"Deus está morto" é talvez uma das frases mais mal interpretadas de toda a filosofia. Entendê-la literalmente, como se Deus pudesse estar fisicamente morto, ou como se fosse uma referência à morte de Jesus Cristo na cruz, ou ainda como uma simples declaração de ateísmo são idéias oriundas de uma análise descontextualizada da frase, que se acha profundamente enraizada na obra nietzscheana. O dito anuncia o fim dos fundamentos transcendentais da existência, de Deus como justificativa e fonte de valoração para o mundo, tanto na civilização quanto na vida das pessoas — segundo o filósofo, mesmo que estas não o queiram admitir. Nietzsche não se coloca como o assassino de Deus, como o tom provocador pode dar a entender: o filósofo enfatiza um acontecimento cultural, e diz "fomos nós que o matamos".
A frase não é nem uma exaltação nem uma lamentação, mas uma constatação a partir da qual Nietzsche traçará o seu projeto filosófico de superar Deus e as dicotomias assentes em preconceitos metafísicos que julgam o nosso mundo — na opinião do filósofo, o único existente — a partir de um outro mundo superior e além deste. A morte de Deus metaforiza o facto de os homens não mais serem capazes de crer numa ordenação cósmica transcendente, o que os levaria a uma rejeição dos valores absolutos e, por fim, à descrença em quaisquer valores. Isso conduziria ao niilismo, que Nietzsche considerava um sintoma de decadência associada ao facto de ainda mantermos uma "sombra", um trono vazio, um lugar reservado ao princípio transcendente agora destruído, que não podemos voltar a ocupar. Para isso ele procurou, com o seu projecto da "transmutação dos valores", reformular os fundamentos dos valores humanos em bases mais profundas do que os ídolos do cristianismo.
Segundo ele, quando o cheiro do cadáver se tornasse inegável, o relativismo, a negação de qualquer valoração, tomaria conta da cultura. Seria tarefa dos verdadeiros filósofos estabelecer novos valores em bases naturais e iminentes, evitando que isso aconteça. Assim, a morte de Deus abriria caminho para novas possibilidades humanas. Os homens, não mais procurando vislumbrar uma realidade sobrenatural, poderiam começar a reconhecer o valor deste mundo. Assumir a morte de Deus seria livrar-se dos pesados ídolos do passado e assumir sua liberdade, tornando-nos eles mesmos deuses. Esse mar aberto de possibilidades seria uma tal responsabilidade que, acreditava Nietzsche, muitos não estariam dispostos a enfrentá-lo. A maioria continuaria a necessitar de regras e de autoridades dizendo o que fazer, como julgar e como ler-o-mundo.
• Em Jurassic Park, quando o cientista Ian Malcolm (Jeff Goldblum) percebe a bobagem que foi a recriação dos dinossauros, ele diz Deus cria dinossauros. Deus mata dinossauros. Deus cria o Homem. o Homem mata Deus. o Homem cria dinossauros ao que sua colega Ellie Sattler (Laura Dern) completa Dinossauros comem Homem. Mulher herda a Terra.
Bibliografia: Bermam, Marshal in; Tudo que é sólido se desmancha no ar.
• Em um trecho da música Índios, da Legião Urbana:
... Quem me dera / Ao menos uma vez / Entender como só Deus / Ao mesmo tempo é três / E esse mesmo Deus / Foi morto por vocês / É só maldade então / Deixar um Deus tão triste. ...


NIILISMO

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

O Niilismo é a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao “porquê”. Os valores tradicionais se depreciam e os "princípios e critérios absolutos dissolvem-se". "Tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e torna-se difícil prosseguir no caminho, avistar um ancoradouro".
De maneira bastante original, o autor Pecoraro, avalia o niilismo sob duas formas. O niilismo pode ser considerado como "um movimento “positivo” – quando pela crítica e pelo desmascaramento nos revela a abissal ausência de cada fundamento, verdade, critério absoluto e universal e, portanto, convoca-nos diante da nossa própria liberdade e responsabilidade, agora não mais garantidas, nem sufocadas ou controladas por nada". Mas também pode ser considerado como "um movimento “negativo” – quando nesta dinâmica prevalecem os traços destruidores e iconoclastas, como os do declínio, do ressentimento, da incapacidade de avançar, da paralisia, do “tudo-vale” e do perigoso silogismo: se Deus (a verdade e o princípio) está morto, então tudo é permitido".

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A história das coisas

O homem louco

– Não ouviram falar daquele homem louco que em plena manhã acendeu uma lanterna e correu ao mercado, e pôs-se a gritar incessantemente: “Procuro Deus! Procuro Deus!”?
– E como lá se encontrassem muitos daqueles que não criam em Deus, ele despertou com isso uma grande gargalhada. Então ele está perdido? perguntou um deles. Ele se perdeu como uma criança? disse outro.
Está se escondendo? Ele tem medo de nós? Embarcou em um navio? Emigrou? – gritavam e riam uns para os outros. O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-lhes o olhar.
“Para onde foi Deus?”, gritou ele,
“já lhes direi! Nós o matamos – vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o horizonte? Que fizemos nós, ao desatar a terra de seu sol? Par aonde se move ela agora? Para onde nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para trás, para os lados, para a frente, em todas as direções? Existe ainda ‘em cima’ e ‘embaixo’? Não vagamos como que através de um nada infinito? Não sentimos na pele o sopro do vácuo? Não se tornou ele mais frio? Não anoitece eternamente? Não temos que acender lanternas de manhã? Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? – também os deuses apodrecem!
Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que o mundo até então possuíra sangrou inteiro sob os nossos punhais – quem nos limpará deste sangue? Com que água poderíamos nos lavar? Que ritos expiatórios, que jogos sagrados teremos que inventar? A grandeza deste ato não é demasiado grande para nós? Não deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve ato maior – e quem vier depois de nós pertencerá, por causa deste ato, a uma história mais elevada que toda história até então!”
Nesse momento silenciou o homem louco, e novamente olhou para seus ouvintes: também eles ficaram em silêncio, olhando espantados para ele. “Eu venho cedo demais”, disse então, “não é ainda meu tempo. Esse acontecimento enorme está a caminho, ainda anda: não chegou ainda aos ouvidos dos homens. O corisco e o trovão precisam de tempo, a luz das estrelas precisa de tempo, os atos, mesmo depois de feitos, precisam de tempo para serem vistos e ouvidos. Esse ato ainda lhes é mais distante que a mais longínqua constelação – e no entanto eles o cometeram !”
– Conta-se também que no mesmo dia o homem louco irrompeu em várias igrejas, e em cada uma entoou o seu Requiem aeternam deo . Levado para fora e interrogado, limitava-se a responder: “O que são ainda essas igrejas, se não os mausoléus e túmulos de Deus?” 3) .

Nietzsche, in A Gaia Ciência, aforismo 154.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

'Eles ajudaram a destruir o Rio'.

É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas. Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente. Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul, pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon. Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.
Quanto mais glamuroso o ambiente, quanto mais supostamente intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e carreiras do pó branco. Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe artística (que tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca - e brasileira, por extensão. Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato. Festa sem cocaína era festa careta. As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a necessidade de inconvenientes viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do asfalto. Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica de mercado terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim, com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.
Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes rastacueras, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças de quem ousa-lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da impunidade. Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu consumo é digamos assim, tolerado. Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir: 'Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro.'
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e Mercedes.'
Sylvio Guedes
Fonte: Jornal de Brasília.

sábado, 11 de outubro de 2008

Eu despedi o meu patrão

Eu Despedi O Meu Patrão

Zeca Baleiro
Composição: Zeca Baleiro

-Eu Despedi O Meu Patrão!

Eu despedi o meu patrão
Desde o meu primeiro emprego
Trabalho eu não quero não
Eu pago pelo meu sossego...(2x)

Ele roubava o que eu mais valia
E eu não gosto de ladrão
Ninguém pode pagar
Nem pela vida mais vazia
Eu despedi o meu patrão...

-Eu Despedi O Meu Patrão!

Eu despedi o meu patrão
Desde o meu primeiro emprego
Trabalho eu não quero não
Eu pago pelo meu sossego...(2x)

Ele roubava o que eu mais valia
E eu não gosto de ladrão
Ninguém pode pagar
Nem pela vida mais vadia
Eu despedi o meu patrão...

-Eu Despedi O Meu Patrão!

Eu despedi o meu patrão
Desde o meu primeiro emprego
Trabalho eu não quero não
Eu pago pelo meu sossego...(2x)

Ele roubava o que eu mais valia
E eu não gosto de ladrão
Ninguém pode pagar
Nem pela vida mais vazia
Eu despedi o meu patrão...

Eu despedi o meu patrão
Desde o meu primeiro emprego
Trabalho eu não quero não
Eu pago pelo meu sossego...(2x)

Ele roubava o que eu mais valia
E eu não gosto de ladrão
Ninguém pode pagar
Nem pela vida mais vadia
Eu despedi o meu patrão...

Não acreditem!
No primeiro mundo
Não acreditem!
No primeiro mundo
Só acreditem!
No seu próprio mundo
Só acreditem!
No seu próprio mundo...

Seu próprio mundo
É o verdadeiro
Meu primeiro mundo
Não!
Seu próprio mundo
É o verdadeiro
Meu primeiro mundo
Não!
Seu próprio mundo
É o verdadeiro
Primeiro mundo
Então!...

Mande embora
Mande embora agora
Mande embora
Mande embora agora
O seu patrão
Seu patrão (O seu patrão!)
Mande embora
Mande embora agora
Mande embora, agora
Mande embora o seu patrão
O seu patrão...

Ele não pode pagar
O preço que vale
A tua pobre vida
Oh Meu!
Oh Meu irmão!...(2x)

(Neste mundo é mais rico o que mais rapa:
Quem tem mão de agarrar, ligeiro trepa;
Quem menos falar pode, mais increpa:
Quem dinheiro tiver, pode ser Papa.)

Eu despedi o meu patrão
Desde o meu primeiro emprego
Trabalho eu não quero não
Eu pago pelo meu sossego...(5x)

Eu Despedi O Meu Patrão!



* A parte em parênteses é trecho de soneto de Gregório de Mattos,
poeta bahiano barroco *

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Minha Indignação

Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca. Eleger para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de vida sofrida; pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre na rua ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza; aceitar que ONG´s de direitos humanos fiquem dando pitaco na forma como tratamos nossa criminalidade; não protestar cada vez que o governo compra um colchão para presidiários que queimaram os deles de propósito, não é coisa de gente solidária. É coisa de gente otária.

Brasileiro é um povo alegre. Mentira. Brasileiro é bobalhão. Fazer piadinha com as imundícies que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar bofetada na cara e dar risada. Depois de um massacre que durou quatro dias em São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça, é o mesmo que contar piada no enterro do pai. Brasileiro tem um sério problema. Quando surge um escândalo, ao invés de protestar e tomar providências como cidadão, ri feito bobo.

Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira. Brasileiro é vagabundo por excelência.
O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam cargos públicos no país, surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na verdade, são oriundos do povo. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado ao ver um deputado receber 20 mil por mês, para trabalhar 3 dias e coçar o saco o resto da semana, também sente inveja e sabe - lá no fundo - que se estivesse no lugar dele faria o mesmo. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de 90 reais mensais para não fazer nada e não aproveita isso para alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.

Brasileiro é um povo honesto. Mentira. Já foi, hoje é uma qualidade em baixa. Se você oferecer 50 Euros a um policial europeu para ele não te autuar, provavelmente você irá preso. Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe ser errado aceitar propinas. O brasileiro, ao mesmo tempo em que fica indignado com o mensalão, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.

O Brasil é um pais democrático. Mentira. Num país democrático a vontade da maioria é Lei. A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi morto numa troca de tiros, foi executado friamente. Num país onde todos tem direitos, mas ninguém tem obrigações, não existe democracia e sim, anarquia. Num país em que a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria barulhenta, não existe democracia, mas um simulacro hipócrita. Se tirarmos o pano do politicamente correto, veremos que vivemos numa sociedade feudal: um rei que detém o poder central (presidente e suas MPs), seguido de duques, condes, arquiduques e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos, vereadores). Todos sustentados pelo povo que paga tributos que tem como único fim, o pagamento dos privilégios do poder. E ainda somos obrigados a votar. Democracia isso? Pense nisso!!!

O famoso jeitinho brasileiro. Na minha opinião um dos maiores responsáveis pelo caos que se tornou a política brasileira. Brasileiro se acha malandro, muito esperto. Faz um "gato" puxando a TV a cabo do vizinho e acha que está botando pra quebrar. No outro dia o caixa da padaria erra no troco e devolve
6 reais a mais, caramba, silenciosamente ele sai de lá com a felicidade de ter ganhado na loto...malandrões, esquecem que pagam a maior taxa de juros do planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação, mas e daí? Afinal somos penta campeões do mundo né? Grande coisa...

O Brasil é o país do futuro. Caramba, meu avô dizia isso em 1950. Muitas vezes cheguei a imaginar em como seria a indignação e revolta dos meus avôs se ainda estivessem vivos. Dessa vergonha eles se safaram... Brasil, o país do futuro. Hoje o futuro chegou e tivemos uma das piores taxas de crescimento do mundo.

Deus é brasileiro. Puxa, essa eu não vou nem comentar... O que me deixa mais triste e inconformado é ver todos os dias nos jornais a manchete da vitória no primeiro turno do governo mais sujo já visto em toda a história brasileira.

Para finalizar tiro minha conclusão:
O brasileiro merece! Como diz o ditado popular, é igual mulher de malandro, gosta de apanhar. Se você não é como o exemplo de brasileiro citado nesse comentário, meus sentimentos amigo, continuemos fazendo nossa parte, e que um dia pessoas de bem assumam o controle do país novamente, aí sim teremos todas as chances de ser a maior potência do planeta. Afinal aqui não tem terremoto, tsunami nem furacão. Temos petróleo, álcool, bio-diesel, e sem dúvida nenhuma o mais importante: água doce!

Só falta boa vontade. Será que é tão difícil assim?

(Pesquisando, descobri que a autoria é duvidosa, mas parece do Jabor sim pelo vocabulário e modo de se expressar)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Questão para os alunos de Ética e Filosofia (segunda-feira, piedade)

Explique a frase de Karl Marx, "A religião é o ópio do povo", a partir da letra da música Cidadão publicada no blog.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O operário em construção

Vinicius de Moraes

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
– Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
– Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
– Garrafa, prato, facão –
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
– Exercer a profissão –
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
– "Convençam-no" do contrário –
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
– Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

– Loucura! – gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
– Mentira! – disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

Cidadão

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Cidadão

Zé Ramalho
Composição: Lucio Barbosa

Tá vendo aquele edifício moço
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas prá ir, duas prá voltar
Hoje depois dele pronto
Olho prá cima e fico tonto
Mas me vem um cidadão
E me diz desconfiado
"Tu tá aí admirado?
Ou tá querendo roubar?"
Meu domingo tá perdido
Vou prá casa entristecido
Dá vontade de beber
E prá aumentar meu tédio
Eu nem posso olhar pro prédio
Que eu ajudei a fazer...

Tá vendo aquele colégio moço
Eu também trabalhei lá
Lá eu quase me arrebento
Fiz a massa, pus cimento
Ajudei a rebocar
Minha filha inocente
Vem prá mim toda contente
"Pai vou me matricular"
Mas me diz um cidadão:
"Criança de pé no chão
Aqui não pode estudar"
Essa dor doeu mais forte
Por que é que eu deixei o norte
Eu me pus a me dizer
Lá a seca castigava
Mas o pouco que eu plantava
Tinha direito a comer...

Tá vendo aquela igreja moço
Onde o padre diz amém
Pus o sino e o badalo
Enchi minha mão de calo
Lá eu trabalhei também
Lá foi que valeu a pena
Tem quermesse, tem novena
E o padre me deixa entrar
Foi lá que Cristo me disse:
"Rapaz deixe de tolice
Não se deixe amedrontar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asa
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar
Fui eu quem criou a terra
Enchi o rio, fiz a serra
Não deixei nada faltar
Hoje o homem criou asas
E na maioria das casas
Eu também não posso entrar"

Hié! Hié! Hié! Hié!
Hié! Oh! Oh! Oh!

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Texto para GQ1 (Imprimam o texto e o levem à aula no dia da prova)

Suponhamos que, durante toda a vida, você haja procurado ser bom, cumprindo o que entende seja o seu dever e tentando fazer o bem a seus concidadãos. Suponhamos, ainda, que muitos deles reprovam o seu comportamento e o encaram como um perigo para a sociedade, embora disso não possam oferecer qualquer prova. Suponhamos, ainda mais, que você é acusado, julgado e condenado por um tribunal de seus pares, de uma forma que lhe parece, com inteira honestidade para consigo próprio, injusta. Suponhamos, finalmente, que estando você aprisionado, e aguardando execução, seus amigos conseguem fazer surgir, para você e sua famifia, possibilidade de fuga e de exílio. Asseguram esses amigos dispor de meios para os subornos necessários e garantem que sua fuga não os colocará em perigo; que, fugindo, você gozará de vida mais longa; que sua mulher e filhos estarão melhor; que seus amigos poderão continuar a vê-lo; e que o consenso geral é favorável à sua fuga. Diante disso, quê faria você, aproveitaria a oportunidade?

domingo, 7 de setembro de 2008

Ética para principiantes

De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto" (Rui Barbosa, Obras Completas, Senado Federal, 1914).



Em pleno século 21, são divulgadas notícias desalentadoras sobre atos de corrupção praticados na vida pública brasileira. Envolvem políticos, autoridades e servidores do Legislativo, Executivo e Judiciário, no âmbito da União, dos Estados e dos Municípios.



A corrupção é chaga antiga e generalizada. Quatro séculos antes de Cristo, o filósofo grego Aristóteles já escrevia: entre o bem do indivíduo e o bem da cidade, é mais importante defender o bem da cidade. Will Durant ensinava que "as concepções morais giram em torno do bem geral". Moralidade existe na vida em comum. A conduta ética é aquela que resulta no bem-estar de todos os cidadãos (A História da Filosofia).



Entre nós, o saudoso político e jurista Franco Montoro, no texto Retorno à Ética na Virada do Século, revelava-se impressionado com o volume de publicações sobre ética nos anos 1990. Tratavam de ética na política, no direito, na indústria, no comércio, na administração, na justiça, nos negócios, no esporte, na ciência, na economia e na comunicação. Ao mesmo tempo, multiplicaram-se por toda parte movimentos populares ou associativos, reivindicando ética na vida pública, na vida social e no comportamento pessoal.



Por que a ética voltou a ser debatida no mundo contemporâneo ? "A resposta talvez possa ser indicada no célebre título do romance de Balzac, 'Ilusões Perdidas'. Quiseram construir um mundo sem ética. E a ilusão se transformou em desespero. No campo do direito, da economia, da política, da ciência e da tecnologia, as grandes expectativas de um sucesso pretensamente neutro, alheio aos valores éticos e humanos, tiveram resultado desalentador e muitas vezes trágico".



Todos nos indignamos com os muitos escândalos fartamente noticiados. Todavia, já pensamos que eles são a "cara" do Brasil ? Sérgio Buarque de Holanda definiu o brasileiro como "homem cordial". Possui sociabilidade aparente para obter vantagens pessoais e evitar cumprir a lei que o contrarie (Raízes do Brasil). É o famoso "jeitinho brasileiro".



Muitos dos que xingam duramente os corruptos, são os mesmos que elegem políticos almejando benesses pessoais. Diversos homens públicos são identificados com o slogan "rouba mas faz". Esses eleitores não idealizam os representantes que administrarão e elaborarão leis em nome da comunidade, mas os "amigões do peito" que vão resolver seus problemas: emprego, bolsa de estudo, tratamento médico gratuito, transferência do filho para a universidade pública e congêneres.



Vão livrá-los de problemas com o delegado de polícia ou o fiscal de tributos, se possível ajeitando a remoção do "incômodo" funcionário para localidade bem distante. São os mesmos eleitores que sonegam imposto de renda, não fornecem recibo ou nota fiscal a clientes e consumidores, subornam o guarda de trânsito e o fiscal da fazenda, compram drogas de traficantes ou fazem apostas em jogos ilícitos. Contudo somos todos muito bons, boníssimos. Corruptos são os outros.



Sou juiz de direito há dezoito anos e sempre me pautei pelos bons exemplos recebidos de meus pais, familiares, professores e amigos. Por isso não me pejo de revelar que juízes também recebem pedidos a todo instante. Qualquer cidadão tem um parente, amigo ou "amigo do amigo" de um magistrado. Usando esses canais, pede "uma mãozinha" no julgamento do seu processo.


Como o Judiciário brasileiro é muito lento, é costume admitir pedidos de mera agilização do andamento de causas. Porém - sinto dizer - na maioria das vezes o "jeitinho" almejado, explícita ou implicitamente, é a decisão a favor do postulante, ainda que contra a lei.



Nossos homens públicos precisam melhorar bastante sua conduta moral. Os cidadãos também. No fundo, no fundo, somos todos iguais...


Por Rogério Medeiros Garcia de Lima, juiz - TJMG

sábado, 30 de agosto de 2008

As meditações cartesianas e o nascimento da subjetividade moderna

por Miguel Duclós



Baseado nas anotações de aula da professora Marilena Chaui

Esse texto procura analisar o modo como Descartes formulou o problema da dúvida hiperbólica na primeira meditação e provou como a alma é mais fácil de conhecer do que o corpo, dando início assim ao nascimento do sujeito moderno, e gerando a semente do idealismo radical e solipsista.

O texto está ambientado no final do Renascimento, e o autor, como Bacon, procurava formular a base sólida e metódica da ciência moderna, mais enxuta e prática do que a medieval, esta baseada principalmente em Aristóteles. O Renascimento é geralmente considerado um período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna; sendo assim, os autores desse período não teriam características completas de nenhuma dessas idades. No entanto, a esse tempo pertencem autores do porte de More, Erasmo, Maquiavel e outros humanistas, cientistas como Galileu e Copérnico, artistas até hoje colocados entre os melhores do mundo (principalmente os italianos e os irmãos Van Eyck, que revolucionaram a pintura com a técnica a óleo), e por isso alguns estudiosos modernos resolveram interpretar o pensamento renascentista como um sistema completo e estruturado.

O racionalismo nessa época não era tão exacerbado, apesar de a razão já ter sido considerada o principal instrumento para conhecer o mundo. O universo era considerado, segundo o conceito de Semelhança, como um todo harmônico, cuja harmonia era feita por seres que se relacionam por amizade e ódio. Essas relações são a própria causa da compreensão de uma coisa por outra, de fato, devido a esse sentimento de totalidade, uma coisa é signo de outra.

Não pretendo entrar em detalhes de como estavam divididas as atividades do saber, a filosofia natural, a magia e a alquimia. Muitas correntes estavam em desacordo com outras, e o pensamento avançava, às vezes contraditório, às vezes indo contra a estrutura social retaliadora e centenária, em busca de um conhecimento não mais cíclico teocêntrico, mas sim de domínio sobre a natureza, da virtú contra a fortuna, antropocentrado, buscando conhecer o mundo ao redor através de leis comprovadas pela razão. Deus, nesse momento, é conhecido pela teologia, o cosmos pela astrologia, e o poder pela filosofia política, cujo maior exemplo é Maquiavel. O princípio arcano (arché= início, primórdio) é então dado como secreto e incognoscível. Giordano Bruno refuta a divisão do mundo como terreno (humano) e celeste (divino), e o declara infinito. Assim, todo o lugar é centro, e nenhum lugar é circunferência. Pagou preço caro por isso. A frase Sapere audi (Ousa saber) exemplifica bem a busca ousada por respostas novas.

A razão e a fé são campos diferentes de busca. Estiveram misturadas na teologia escolástica, mas Descartes declara, em seu Discurso do método para bem conduzir a própria razão e procurar a verdade nas ciências, que as verdades divinas estão além dos raciocínios comuns, e é necessário assistência divina e mesmo ser mais que um simples homem para ter acesso à revelação. É nessa primeira parte do discurso do método que Descartes explicita seu descontentamento com a forma como eram conduzidos a ciência e a filosofia pelos doutos senhores de Academias e escolásticos. A atividade social era muito importante para ser considerado digno. Muitas vezes, uma pessoa já conseguia a glória independente de sua personalidade ou valor pessoal, mas sim por ocupar certo cargo importante.

Mas vamos entender melhor as críticas às teorias aristotélicas. Aristóteles havia definido dez tipos de substâncias diferentes (qualidade, quantidade, relação, tempo, posse, lugar, ação, paixão, etc.). Uma substância é aquilo que existe em si e por si, sem depender de outra coisa. Todo o resto são os modos ou atributos das substâncias. A física aristotélica estudava o movimento, sendo movimento entendido como qualquer alteração. Tudo o que é matéria se move, pois é imperfeito, e está sujeito ao devir. O imperfeito aspira à perfeição, e o perfeito não muda. Para Aristóteles, só Deus não mudava. Seu Deus era assim, imóvel para si mesmo, causa primeira de tudo, não deseja nada, pois nada lhe falta. Os corpos podem ser pesados e leves, e são animados por um movimento eterno. A principal virtude é a amizade. Os seres se modificam segundo regras fixas, estabelecidas pela causa final (aquela da finalidade da mudança de um corpo). A inteligência (entelechia) se move em direção a um fim. No aristotelismo, as causas podem ser:

1.material

2.formal

3.eficiente

4.final

Com o surgimento da nova física moderna, de Kepler, Copérnico e Galileu, o aristotelismo cai por terra, com a prova de que é a Terra que gira em torno do Sol, e não o contrário.

Apenas a causa eficiente vai permanecer na filosofia moderna, e se tornar a lei da causalidade. Na causa eficiente deve haver tanta ou mais realidade que o efeito (conforme explicado por Descartes no início da 3ª meditação), e causa e o efeito devem ser da mesma natureza. E Descartes vai declarar viva apenas três substâncias: a extensa, o pensamento, e a divina.

Com toda essa reviravolta no que até então era considerado certo, e que servia de base para a educação do europeu, Descartes resolve abandonar esse ensino, e procurar a verdade no Grande Livro do Mundo. Depois de duvidar de tudo que tinha aprendido, encontrava-se nas trevas, sozinho. Ele precisava de um método para recomeçar a construir o caminho do conhecimento, ou pelo menos as bases dele. O método dá origem a um problema fundamental da filosofia moderna: o sujeito do conhecimento. Esse sujeito serve para controlar a razão nos ditames do conhecimento. A base de toda descoberta é um axioma tirado por intuição intelectual, mas para ir além dele se deve usar da dedução. A corrente dedutiva leva em conta a ordem das razões, isto é, a ordem como as coisas se apresentam ao entendimento em seus graus de simplicidade, e não a ordem das matérias, ou a ordem das coisas nelas mesmas. Para Descartes, o mais simples era o mais absoluto, por ser o mais universal. Até a modernidade, o objeto era considerado com características que deveriam imprimir no sujeito o conhecimento verdadeiro. Com Descartes, o sujeito deve buscar, através da razão, melhorar suas características para buscar o conhecimento verdadeiro. O método para se conduzir a razão está ligado à arte (ars), que como técnica, se opõe ao acaso. Deve ter regras simples e universais, e com o menor número de regras descobrir o maior número de coisas. Descartes tira da certeza da geometria, a noção de que é preciso um procedimento para conhecer. Daí a importância fundamental da ordem e da medida. O pensamento contínuo deve buscar uma proporção contínua, e ir aumentando gradualmente seu saber. Mas para não recorrer em erro, é preciso que se entenda ser o método necessário para a busca da verdade. A razão precisa de auxílio, e de disciplina. Uma das regras é a da enumeração. Os passos da cadeia de pensamentos devem ser repetidos várias vezes, até se aproximarem da certeza da dedução. O entendimento é o único capaz de conhecer, mas é auxiliado nessa tarefa pela memória e imaginação.

Para começar um conhecimento sólido e seguro, claro e distinto, devemos livrar nossas mentes das falsas certezas. Daí ser necessária a dúvida metódica e a meditação. O ato de meditar é um recolher-se em si mesmo, onde são passadas a limpo nossas próprias falhas, recapitulando noções marcantes, se afastando assim dos vícios corporais e buscando elevar a alma. O ato de duvidar não é à toa, mas vem por razões maduramente consideradas, tanto que Descartes só o fez quando já tinha esperado tanto a hora certa, que não mais poderia fazer novamente. A dúvida cartesiana não é cética, pois o cético não acredita ser o homem capaz de ver qualquer verdade. Antes disso, a dúvida é um instrumento epistemológico, um recurso que o sujeito do conhecimento tem a seu dispor.

O que é duvidoso é aquilo a respeito do qual eu posso perguntar ser de uma maneira diferente. Ou seja, pode ser considerado possível ilusão aquilo que é inseguro. Todo o processo passível de dúvida gera uma série de conhecimentos que estão na alçada da dúvida. A dúvida não é idiossincrática, mas trata dos alicerces e bases do conhecimento. A primeira meditação é conhecida como a da dúvida hiperbólica, exagerada. A primeira dúvida é a dos sentidos. Os sentidos algumas vezes são enganosos. Para validar a dúvida dos sentidos, Descartes retoma o argumento dos sonho. Não sabe se está sonhando ou acordado. Afinal estou aqui nesta cadeira, mas muitas vezes tive impressão de algo com aparência semelhante quando estava sonhando. Ou seja, você é iludido durante o sonho achando que está acordado. Daí a importância fundamental de se perceber estar em um sonho e a começar a explorar o espaço-éter. Como todos sonham, o argumento do sonho é válido, e o meditante não está louco, como os mendigos que juram estar cobertos por ouro.

O sexto parágrafo apresenta a comparação muito interessante entre a pintura e os sonhos. Diz nosso autor que os sonhos são como quadros e pinturas, e não podem ser formados senão à semelhança de algo real e verdadeiro. Os pintores usam de todo o artifício para fazer uma forma inteiramente nova, mas tudo o que conseguem é combinar misturar. A palavra artifício significa justamente isso, combinar e compor com o que já existe na natureza. A palavra facio está ligada a factum (feito) e fictum, essa última ligada a fingio, ligada a ficio. O artista, através de sua técnica, cria uma ficção, uma quimera (chimaera), como no caso de sátiros e sereias. É a combinação heterogênea de uma coisa por outras coisas, é só pode ser entendida como representação, muitas vezes só pode ser dita e não pensada. A dúvida encontra seu limite nos sétimo e oitavo parágrafos. Não é permitido duvidar das naturezas simples das percepções, como o espaço e o tempo, figura, etc. A geometria e aritmética, que trata de coisas simples e universais não estão sujeitas a dúvidas. Para resolver esse impasse, Descartes diz ter a opinião (não certeza ainda na 1ª meditação) de que existe um Deus e levanta a possibilidade de ser Ele enganador: “Ora, quem me poderá assegurar que esse Deus não tenha feito com que não haja nenhuma terra, nenhum céu, nenhum corpo extenso, nenhuma figura, nenhuma grandeza, nenhum lugar, e que, não obstante, eu tenha os sentimentos de todas essas coisas e que tudo isso não me pareça existir de maneira diferente da que vejo?”. Tal Deus é considerado bom pelos cristãos, mas mesmo assim permite que certas vezes se engane, de tal forma que é possível pensar que talvez se engane nas coisas mais simples possíveis. Esse argumento não é novo, já o encontramos antes em alguns céticos, como Guilherme de Ockan. Se sou o efeito de uma causa divina, como poderia me enganar? Pois causa e efeito tem de ser da mesma natureza, segundo a causa eficiente. Ockam se insurgiu contra o tomismo, onde Deus cria as coisas que já estavam no seu intelecto por liberdade (contingência), ato de sua infinita vontade. Para Ockam não existe essência universal, pois o universal é abstração do singular. Esse Deus seria onipotente, e por isso cria o princípio da identidade e da não contradição. Mas se faz isso porque quer, nada o impede de criar outras coisas, como a contradição. Deus cria o singular e não o universal. Antes se sermos o todo, somos sujeitos percebendo e significando o mundo de maneira única. A explicação para não estar tudo ligado, seria o fato de que Deus pode aniquilar qualquer singular, sem afetar o geral. Aniquilar significa fazer voltar ao nada.

Descartes fala que se algumas pessoas não acreditarem em um ser tão onipotente assim, devem considerar que enganar é imperfeição, e quanto menos poderoso Deus for, mais chance terá de me enganar. As pessoas atribuíram “ter eu chegado ao estado e ao ser que possuo” :

1. a algum destino ou fatalidade. Esta é uma perspectiva histórica da filosofia , a noção de que as coisas se ligam assim é pertencente aos estóicos, e combatidas no século XVII. Cada coisa, para os estóicos, seria regida por leis naturais e necessárias, pois fazem parte da chama divina e universal. Nossa causa não é livre, mas determinada por outras. A palavra fatalidade vem de factum, que significa fado.

2. ao acaso: posição dos epicuristas, que diziam ser o mundo formado por átomos que se conectam e desconectam ao acaso.

3. por conexão das coisas, ou seja, a potência ordenada de Deus.

Continuando com a suposição de que Deus cria singulares, e não universais, quem poderá garantir que o que se vê é o que existe? Afinal, não há ordem universal.

Por prudência, Descartes resolve desconfiar da existência de um Deus assim. A prudência é uma das virtudes clássicas, e está ligada à moral. Descartes formula nesse trecho uma moral provisória.

No parágrafo onze, Descartes fala da necessidade de lembrar dos resultados de sua meditação. Pois pelo costume crenças e opiniões familiares ganharam um direito sobre ele, o de ocupar seu espírito. É apresentado o risco da heteronomia de pensamento, ao invés de uma autonomia. Para escapar disso, é necessário recordar os resultados da dúvida. O recordar é um lembrar voluntário, um esforço da mente. Já a força do costume, o hábito, é uma segunda natureza, mais falsa que a primeira. Descartes prefere, ao invés dessa heteronomia, um auto-engano que utilizará até seu pré-juízo se transformar em juízo. A meditação, por ser espiritual, tomou um rumo que diferia muito da vida prática, e agora essa vida trata de cobrar suas dívidas. Nesse ponto, é feita distinção entre agir e conhecer. A auto-enganação tem a função de fazer assombroso espectro do Deus enganador se tornar uma hipótese, mudando assim de estatura, passar de opinião forte a vaga hipótese. Fica explícito então o poderio da vontade do sujeito.

A nova hipótese é o gênio maligno, também ardiloso e enganador, um diabrete que influi em nossas sensações, enganando-nos. A diferença entre o Deus Enganador e o gênio maligno é que um age no espírito, e o outro no corpo. Mas Descartes desconfia do seu corpo, das sensações. Nada existe e o corpo também não, assim o gênio maligno também perde importância.

Descartes termina a primeira meditação demonstrando preguiça, um dos sete pecados capitais. É como um escravo que pensa ser livre. Com a meditação interrompeu-se o fluxo das coisas ilusórias, e hipóteses assustadoras foram levantadas na mente do meditante. Mas a segunda natureza soterra esse movimento de interiorização de busca da primeira natureza. Isso lembra os prisioneiros da caverna de Platão, que acreditavam serem livres e estarem vendo tudo o que existe, e um deles se solta em busca da luz, simbolizada pelo Sol. É no Fédon que Platão diz que a luz divina se transforma em matéria sem luz. Para os cristãos, Deus é a luz e a alma pode receber essa luz (lux-luz , lumem-objeto iluminado), que pode ser natural (razão) ou supranatural, concedida pela graça divina (fé). Já para os neoplatônicos, o Uno (incognoscível e eterno), emana luz, o intelecto, da onde saí o inteligível, que emana as coisas. É de se notar que a primeira meditação termina de forma a exigir a segunda.

A afirmação de que o espírito é mais fácil de conhecer do que o corpo foi escandalosa no ponto de vista da tradição filosófica. Essa afirmação inaugura a filosofia moderna. Na tradição filosófica, o espírito era mais digno, mas não mais fácil de se conhecer do que o corpo. A 2ª meditação começa com uma recapitulação da anterior, e passa para um sentimento de angústia. Descartes diz não ser mais capaz de esquecer as dúvidas a que chegara no dia anterior, e se sente como em um abismo. Nesse ponto, há uma parada: ou a nova ciência surgirá, ou o ceticismo estará justificado.

Descartes faz uma analogia entre si próprio e Arquimedes. Arquimedes precisava apenas de um ponto fixo, para que, usando a alavanca, conseguisse mover o mundo de lugar. Descartes procura ao menos uma verdade que seja certa e indubitável. Com a geometrização do espaço e a infinitização do universo, havíamos perdido o centro. Descartes procurava um ponto fixo, ou seja, uma base sólida onde pudesse erguer seu palácio do conhecimento. Pergunta Descartes: “O que poderá, pois, ser considerado verdadeiro? Talvez nenhuma outra coisa a não ser que não há nada de certo”. Descartes começa a hesitar, coisa que antes não havia acontecido. Nesse recurso literário, expõe sua dúvida sobre se depender ou não do corpo para existir. Porém, a brecha é aberta, quando ele descobre que para receber a ação do Deus Enganador, precisa ser. Ele não pode deixar de ser enquanto receber a ação do Deus Enganador. Essa é uma primeira afirmação verdadeira: “Eu sou, existo”. Ela é verdadeira toda a vez que a concebo em meu espírito. Ou seja, a frase é verdadeira em um sentido atual, não potencial. Ele ainda não demonstrou nada além disso, e deve ter cuidado para não atribuir ao ser outra coisa que não ele mesmo. Assim, para conservar a primeira evidência, é preciso atenção.

Conhecer está ligado a perceber, que está ligado a ver. Esse ver pode ser com os olhos do corpo e com os olhos do espírito. Com os olhos do espírito eu tenho uma intuição intelectual, vejo com certeza, entendo, vejo a coisa na sua totalidade. A mathema acreditava que o espírito podia apreender de uma só vez o objeto em sua inteireza. E quando se vê completamente, se tem a evidência. Já a atenção é a atividade intelectual que busca a evidência, a afirmação de que só conhecemos o que é claro e distinto, e a exigência de que devemos começar por coisas mais simples. Para o juízo não cair em erro, é necessário a atenção. Mas o que é esse “eu que existe”? Esta é uma indagação metafísica. Descartes refuta a concepção clássica de homem por Aristóteles e os tomistas, a de que o homem é um animal racional. Pois perguntando-se o que é racional, cairia-se em questões mais complicadas e indesejáveis no momento.

A primeira evidência veio enquanto o meditante estava pensando, e se torna verdadeira toda vez que em um ato atual, ele a concebe em seu espírito. As coisas vieram conforme as ordens do pensamento, e ele foi quem deu a medida. Descartes diz- e aí ele volta o verbo ao passado- que considerava o corpo uma máquina composta de ossos e carne. A alma seria feita de éter, um corpo sutil, rarefeito, algo como um vento ou uma flâmula tênue. Para Platão, alma podia ser temperante (desejos), irascível (coração) e racional. Para os estóicos, era um sopro sutil. Para Aristóteles, há quatro almas: vegetativa, locomotiva, sensitiva e intelectiva. Descartes fica com o quarto tipo de alma, o pensamento. O pensamento é, para Descartes, ao mesmo tempo alma e espírito. Sob a mira do Ser ardiloso e poderoso que emprega todas a sua indústria a enganar, Descartes diz não poder estar tão certo da natureza das coisas corpóreas. Depois de falar o que não pertence ao seu ser, Descartes dá a resposta para a pergunta “o que sou?”, que é: “uma coisa que pensa” (res cogitans). E uma coisa que pensa é uma coisa que concebe, que duvida, que afirma, nega, quer, imagina e que sente.

Nesse ponto interromperei a exposição pois já atingi o objetivo proposto. A certeza do Cogito cartesiano inaugura o sujeito moderno, dando importância fundamental ao ser que pensa, em oposição a um Deus que pode enganar-me. A força do pensamento subjetivo é tal que Descartes chega a duvidar que as pessoas que ele vê andando vestidas na rua não sejam autômatos movidos por mola. Tal afirmação tem um tom solipsista. Foi exposto também como é problematizado o sujeito do conhecimento, que com ordem e medida, procura conhecer as coisas em sua inteireza. Descartes falará então das outras duas substâncias, a extensa, onde se tornou famoso seu exemplo da cera que muda muito mas não deixa de ser extensa, e a divina. Tentará provar que Deus existe e não é mal, mas pelo contrário, ajuda a transpor o abismo entre o sujeito e o objeto.


BIBLIOGRAFIA

1. Anotações da aula da professora Marilena de Souza Chauí

2. Descartes, René. Volume da coleção Os Pensadores, editora Nova Cultural, São Paulo SP. Livro usados nesse volume: Discurso do método para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas ciências e Meditações concernentes à Primeira Filosofia nas quais a existência de Deus e a Distinção Real entre a Alma e o Corpo do homem são demonstradas

3.Cottinghan, John. Dicionário Descartes Editora Zahar

4.Chauí, Marilena Primeira filosofia Artigo sobre filosofia moderna

5. Descartes, René. Regras para a direção do espírito. Edições 70. Portugal, Lisboa.

Aparelho Psíquico

Freud ao estudar o funcionamento e a organização mental do homem percebeu que existem três elementos funcionais que atuam de diferentes formas. Aos elementos, nomeou Id, Ego e Superego.

Ao Id foi atribuída a parte primitiva da mente, ou seja, o instinto irracional que se manifesta sem a preocupação com princípios morais, éticos, etc. O Id é mais evidenciado na infância do que na fase adulta, pois na infância a mente é dominada pelo desejo de ter seus pedidos atendidos imediatamente. Na fase adulta, o Id é influenciado pelo Ego e Superego.

Ao Ego foi atribuída a parte de equilibrar os anseios do Id e do Superego de forma racional e consciente. O Ego possui elementos conscientes e inconscientes que se conflitam para que uma decisão seja tomada. No Ego também se alojam os mecanismos de defesa, as manifestações que o Ego apresenta para se livrar de forma inconsciente de situações que provoque dor psíquica, angústia.

Ao Superego foi atribuída a função de impedir a realização dos instintos e desejos do Id. Influencia o Ego de forma a castigá-lo por se influenciar pelo Id provocando os sentimentos de culpa e recompensá-lo quando é influenciado por atitudes aceitáveis. Utiliza regras, éticas, valores e moralidades para agir no Ego de forma a censurar o Id.

Dessa forma, pode-se perceber que o Id e o Superego são elementos inconscientes geradores de conflitos no Ego, elemento consciente responsável pela tomada de decisões e pela liberação do pensamento na realidade externa.

O Ego quando influenciado pelo Id torna um indivíduo agressivo, dependente, escandaloso, histérico, impaciente, mal-humorado, rebelde, falso, egoísta, etc. Enquanto que quando influenciado pelo Superego torna o mesmo crítico, acusador, exigente, preconceituoso, prepotente, autoritário, invalidador de idéias, etc. mostrando que os elementos da estrutura mental são interdependentes não podendo ser considerados isoladamente. Nesse processo o Ego atua para obter influências do Id e do Superego de forma com que a influência seja racional.

Por Gabriela Cabral
Equipe Brasil Escola

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Os Dez Mandamentos

Embora naturalmente vários destes mandamentos não façam mais sentido para o modo de vida ocidental contemporâneo, eles constituem, ao lado da lei de talião, a base para a moral cristã. Eles são:

1º - Amar a Deus sobre todas as coisas.
Em Êxodo 20, 2-3: Eu sou o Senhor teu Deus, que te libertou do Egito, do antro de
escravidão. Não terás outros deuses além de mim.
2º - Não fazer imagens para adoração
Em Êxodo 20, 4-5: Não farás para ti ídolos, nem figura alguma do que existe em cima,
nos céus, nem embaixo, na terra, nem do que existe nas águas, debaixo da terra.
3º – Não tomar seu santo nome em vão.
Em Êxodo 20, 6: Não pronunciarás o nome do Senhor teu Deus em vão, porque o Senhor
não deixará impune quem pronunciar seu nome em vão.
4º – Guardar o dia de sábado
Em Êxodo 20, 7:Lembra-te de santificar o dia do sábado. Trabalharás durante seis dias e
farás todos os trabalhos, mas o sétimo dia é sábado dedicado ao Senhor teu Deus.

5º – Honrar pai e mãe.
Êxodo 20, 8: Honra a teu pai e a tua mãe, para que vivas longos anos na terra que o
Senhor teu Deus te dá.
6º – Não matar.
Em Êxodo 20, 9: Não matarás.
Mas observe-se: Êxodo 21:
12. Quem ferir mortalmente um homem, será punido de morte.
15. Quem ferir o pai ou mãe, será punido de morte.
16. Quem seqüestrar uma pessoa, quer a tenha vendido, ou ainda se encontre em seu
poder, será punido de morte.
17. Quem amaldiçoar o pai ou a mãe, será punido de morte.
E em Êxodo 22, encontramos mais ainda:
17. Não deixarás com vida uma feiticeira.
18. Quem tiver relações com um animal, será punido de morte.
19. Quem oferecer sacrifícios aos deuses, e não unicamente ao Senhor, será condenado
ao extermínio.
7º – Não adulterarás.
Em Êxodo 20, 10: Não cometerás adultério, ou Não pecar
contra a castidade”.
8º – Não furtar.
Êxodo 20, 11: Não furtarás.
9º – Não levantar falso testemunho.
Em Êxodo 20, 12: Não levantarás falso testemunho contra o próximo.
10º - Não desejar a mulher do próximo nem cobiçar
nenhum de seus bens.
Em Êxodo 20, 13: Não cobiçarás a casa do próximo, nem a mulher do próximo, nem o
escravo, nem a escrava, nem o boi, nem o jumento, nem coisa alguma do que lhe
pertence.

Algumas perguntas se impõem quando pensamos na validade desses mandamentos: Quais deles ainda são sentidos por nós como necessários? Por que alguns desses mandamentos perderam sua força e não nos movem mais? Quais deles dizem respeito ao que sentimos intimamente e quais ao que seguimos meramente por questões legais ou sociais?

domingo, 10 de agosto de 2008

Método de trabalho

Meu método de trabalho como professor tem como meta o comprometimento. Para tanto é necessário que para cada turma eu desenvolva uma abordagem diferente levando em conta as peculiaridades do curso, do turno, da faixa etária. Além dessas preocupações, é necessário que o curso de filosofia, sempre visto como algo distante das atribulações cotidianas, seja apresentado em conexão justamente com a lida cotidiana. A fim de conseguir isso, não parto de conhecimentos históricos ou teóricos nas aulas. Parto do conhecimento cotidiano dos alunos para, a partir daí, chegar a uma ordenação teórica possível para cada grupo.
Tratando-se, por exemplo, de aulas de ética, sabemos que toda e qualquer pessoa sabe o que é moral para ela e para o seu grupo, e consegue também discorrer minimamente sobre comportamento ético, equiparando aí, logicamente, ética à moralidade. Por conta disso, procuro antes saber dos alunos qual o modo de pensar ético e moral deles e procuro juntamente com eles descobrir a razão de tal pensamento, em que esse pensamento se baseia deixando clara a sua importância para ele e para o grupo como um todo. Nesse processo não apenas eles aprendem algo, eu também o aprendo. Sempre tenho informações diferentes e tenho, assim, de lidar com conduções diferentes. Esses caminhos guiados por mim levam a mim e a eles a conclusões ou a simples questionamentos ao mesmo tempo muito peculiares ao grupo e muito atrelados a questões sempiternas da ética enquanto disciplina da filosofia.
Esse método de trabalho faz com que tanto os alunos quanto o professor vejam os problemas abordados como problemas realmente nossos e não como meros exercícios de raciocínio. Essa relação íntima com os tópicos apresentados mostra para o aluno que estamos ali tratando da vida dele também, não da de uma personagem hipotética. Certos de estarem tratando dos problemas deles, finalmente eles se comprometem com a aula e, assim, com a investigação dela decorrente. Com isso eles ganham disposição para seguir um caminho de pensamento, esse sim, distante de sua lida cotidiana. Pensar metódica e atentivamente é, de fato, algo que não fazemos com freqüência. Esse passo, o da investigação, só é possível se houver comprometimento. A partir dos dados colhidos na investigação preliminar, partimos para sua perscrutação. Podemos aí remeter o modo de pensar do grupo a sua raiz filosófica. Em geral é possível revelar a relação entre o modo mais cotidiano de pensamento acerca do tema mais trivial e o pensamento de um filósofo da tradição ocidental. Naturalmente não faço isso aleatoriamente. Em alguns casos descobrimos isso juntos, mas quando tal não acontece, tenho de mostrar como nosso modo de pensar se enraíza na modernidade, introduzindo o estudo, ainda que mínimo, dos filósofos que estão na fundação do modo de pensar cotidiano do ocidente.