sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Amor verdadeiro

Vimos um caso interessante nos últimos dias. Uma professora foi presa acusada de estupro presumido. Ela teria tido relações sexuais com uma aluna de treze anos. Há aí dois delitos: um criminal outro ético. No Brasil a idade de consentimento sexual é de quatorze anos. Isso quer dizer que apenas com quatorze anos o adolescente pode consentir em ter sexo, seja com outro adolescente seja com um adulto. Quando há sexo entre um adolescente de treze anos e alguém com uma diferença de idade de cinco anos ou mais, há o que se chama estupro presumido. Isso quer dizer que não importa se há ou não consentimento, o indivíduo com cinco anos a mais deve responder criminalmente. A garota era aluna, disso resulta um delito ético. Nesse caso não importa tanto a idade da aluna, pois ainda que as amantes tivessem a mesma idade, a relação aluna professora teria sido pervertida. 
Por mais interessante que pareça esse episódio, não é o ponto legal nem o ético que quero abordar, mas o psicológico. Na sequência do episódio, naturalmente psicólogos foram consultados pelas redes de televisão para darem suas opiniões sobre o caso. Chamou-me a atenção particularmente o que disse uma psicanalista. A garota disse amar a professora e prometeu esperar por ela não importa quanto tempo ela ficasse presa. Analisando isso, a psicanalista disse que ela não ama de verdade, pois não é capaz disso em sua idade. A tal psicanalista nem se refere à peculiaridade da relação, isto é, da relação entre uma mulher de uns trinta anos, professora, e uma garota de treze, aluna. Ela se refere apenas à garota, pois na idade de treze anos, ela não seria capaz de medir as consequências dos atos desencadeados por seu presumido amor, portanto, conclui a psicanalista, ela não ama. Gostaria que a senhora psicanalista me explicasse a relação entre medir consequências de atos e amar. Quando uma pessoa apaixonada consegue medir adequadamente a consequência de seus atos? Ora, se ela conseguir fazer isso de modo adequado, podemos dizer que se trata de uma pessoa estóica, ou seja, de uma pessoa capaz de controlar suas emoções racionalmente de modo a ser sempre comedida e ponderada em suas escolhas e atos. Isso, felizmente, não existe. Tal aberração, caso existisse, seria algo como um psicopata capaz de amar arrependido justamente de amar. Ou seja, como disse, algo que não existe. É apenas nessa idade ou no "ambiente psicológico" criado por essa idade que o amor em sua agudeza é possível. O amor que não mede consequências, o amor que não teme a morte, o amor louco dos sóbrios, o amor de Julieta. Ela, a personificação mais completa do amor, tinha precisamente treze anos quando morreu de amor e por amor. Ela representa o amor pleno, e todo e qualquer amor que se tem depois desse é mera sombra do primeiro. Depois de as restrições aparecerem, depois que aprendemos a ser consequentes, esse amor, em seu vigor, já não é mais possível. Depois temos medo não só da família, mas também dos outros, do mundo, do futuro. Somos já pessoas responsáveis e não podemos mais amar completamente. Às vezes, entretanto, acontece tal amor em pessoas mais velhas. Elas enchem a cara quando não correspondidas, tentam o suicídio, e todos as consideram loucas; elas brigam, discutem, largam tudo quando correspondidas, e todos as consideram loucas. Tanto num caso quanto noutro, todos dizem: como um adulto é capaz de amar como se tivesse treze anos? Ora, isso é loucura. De fato, amar inconsequentemente é loucura. Fiquemos com nossas consequências e deixemos o amor para os contos de fadas de nossas memórias frustradas.